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Nem todo silencio é saudável

Por Elizandra Santos – Especialista em Desenvolvimento Humano e Potencialidade Comportamental.

Há um tipo de mal que não grita. Não se impõe com violência ou escândalo. Ele chega de mansinho, disfarçado de “não é tão grave”, “vai passar”, “melhor deixar pra lá”. E, aos poucos, esse mal se instala. Começa pequeno, tolerável, quase imperceptível — e é exatamente aí que mora o perigo.

 

Na perspectiva psicanalítica, poderíamos dizer que esse mal tolerado é uma forma de recalque socialmente aceito. Algo que, por repetição e costume, vai sendo empurrado para o inconsciente coletivo, tornando-se parte da norma, da cultura, da rotina emocional de um indivíduo ou de uma sociedade. Ele é incorporado ao nosso modo de viver como se fosse inofensivo. Mas não é.

 

Freud nos alertou que aquilo que não é elaborado, retorna como sintoma. O mal tolerado, seja ele uma relação abusiva, um ambiente tóxico, a negação de si, ou a banalização da dor alheia, vai se acumulando na psique. O sujeito se adapta à dor para não entrar em contato com o abismo que seria enfrentá-la. Ele cria defesas — racionalizações, negações, projeções — e vai sobrevivendo, mas não vivendo.

 

Na prática, isso significa permanecer em relações que sufocam, aceitar condições que diminuem, silenciar diante de injustiças, permitir microagressões diárias, ignorar o próprio sofrimento em nome da estabilidade. O mal, assim, deixa de ser um ato isolado — torna-se uma cultura interna. Um acordo silencioso com a própria impotência.

 

Do ponto de vista do ego, é mais fácil se adaptar do que confrontar. O superego, por vezes adoecido, reforça a ideia de que merecemos o pouco que recebemos, que reclamar é fraqueza ou ingratidão. E o id, pulsante, guarda toda a raiva, frustração e desejo reprimido que, mais cedo ou mais tarde, podem explodir — seja em forma de doença, depressão, ansiedade, agressividade ou até indiferença.

 

Nada é mais perigoso do que o mal que aprendemos a tolerar porque ele destrói silenciosamente a nossa integridade psíquica. Ele nos torna cúmplices daquilo que, no fundo, nos adoece. Ele contamina a percepção do que é justo, saudável e desejável. Ele rouba a capacidade de dizer “não”.

 

Refletir sobre isso é um convite à coragem: coragem de enxergar o que se tornou hábito, mas que nunca foi natural. Coragem de revisitar pactos silenciosos com a dor. Coragem de romper com o que anestesia, com o que acomoda, com o que fere.

 

Porque só há liberdade real quando deixamos de tolerar o que nos prende — mesmo que pareça pequeno. Mesmo que todo mundo diga que é normal. Afinal, na clínica psicanalítica e na vida, o que é normal muitas vezes só revela o quanto estamos todos adoecidos — e chamando de paz o que é apenas silêncio.

 

Se esse artigo tocou algo dentro de ti, talvez seja hora de parar de tolerar o que te machuca em silêncio.

Para dar o primeiro passo rumo à tua cura, entre em contacto pelo WhatsApp +244 923 86 54 22 e agenda a tua sessão de psicanálise comigo.

A tua libertação começa agora.


 @ellizandra_santoos

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