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Denis Mukwege, o médico que defende as mulheres

O seu maior sonho é acabar com as violações na República Democrata do Congo, mas enquanto isso não acontece dedica-se, há 16 anos, a dar algum conforto a mulheres, jovens e até crianças violadas e mutiladas.

Num país permanentemente em guerra, a República Democrática do Congo (ex-Zaire), Denis Mukwege, médico ginecologista e obstetra, destaca-se como nenhum outro. Nos últimos 16 anos, tem-se dedicado a tratar mulheres, jovens e crianças violadas e mutiladas, sendo considerado um dos maiores especialistas mundiais nesta área.
Num país, onde se se estima que diariamente sejam violadas mil mulheres, Denis Mukwege não é apenas um médico, é também um activista dos direitos humanos que tem dado nas vistas pelo seu trabalho ímpar, tendo já ganho vários prémios, entre os quais: Africano do Ano em 2009, prémio Chirac para a Prevenção de Conflitos, em 2013, Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, atribuído pelo Parlamento Europeu, no ano passado, e Prémio Gulbenkian já este ano, concedido as instituições e pessoas que se distingam na defesa dos valores essenciais da condição humana.



O início da luta
Nascido em 1955, o desejo de ser médico surgiu quando, ainda criança, começou a acompanhar o pai, um pastor da Igreja Pentecostal, nas suas visitas aos doentes da comunidade. Mais tarde, já médico, decidiu especializar-se em ginecologia e obstetrícia depois de ver que as pacientes do Lemera Hospital não tinham cuidados suficientes quando davam à luz. Contudo, não imaginava ainda o cenário que iria encontrar durante a segunda guerra do Congo, um sem número de mulheres violadas e mutiladas com substâncias químicas ou alvejadas a tiro nos órgãos sexuais.

Foi em pleno conflito, mais propriamente em 1998, que começou a construção do Panzi Hospital, in Bukavu, numa região conhecida pela falta de cuidados de saúde básicos, e que viria a ser inaugurado um ano depois. Até hoje, Denis Mukwege e a sua equipa já salvaram mais de 40 mil mulheres, a maioria vitimas de violação perpetuada por milícias armadas, apesar da guerra já ter terminado em 2003. O hospital tornou-se uma referência mundial na reparação e tratamento das lesões provocadas por este género de agressão. Para o médico, “o corpo das mulheres foi transformado num campo de batalha", que ele e os seus colegas reconstroem. O ginecologista diz que as violações na República Democrata do Congo são a “maior monstruosidade do século” e nada têm a ver com sexo, mas com terrorismo e tortura de forma a instalar um clima de medo entre a população. Esta estratégia leva as pessoas a abandonar as aldeias, os seus campos e os seus bens e destrói famílias.




Tentativa de assassinato
Tanto para ele como para os membros da sua equipa não há nada pior derrota do que saber que ajudaram uma mulher violada e dez anos depois tratam a filha, que resultou dessa violação, pela mesma razão. Denis Mukwege defende a ideia de que nada vai mudar até que a igualdade de géneros seja aceite por todos. E isso só pode acontecer se as mentalidades se alterarem, um trabalho que tem de ser feito desde a mais tenra idade. É por isso, entre a gestão do Panzi Hospital e da Fundação com o mesmo nome, viaja pelo mundo todo à procura de apoios e alertando a comunidade internacional para este terrível problema. Mas no meio de tudo isso, ainda tem tempo para dois dias por semana continuar a praticar medicina, o que mais gosta de fazer. Convém frisar que além dos cuidados de saúde, a fundação concede assistência jurídica e psicológica às pacientes, tudo, na maioria dos casos, de forma gratuita.

Esta sua dedicação tem-lhe provocado muitos dissabores e ameaças, tendo sobrevivido a uma tentativa de assassinato em Outubro 2012, na sua própria casa, pouco depois de, num discurso das Nações Unidas, ter denunciado o horror que se vivia na República Democrata do Congo. O seu guarda-costas morreu e os seus filhos foram feitos reféns até ele voltar do hospital. Depois disso saiu do país, mas três meses depois regressou para continuar o combate às violações que tinha encetado e que já foi retratado em filme por um realizador e uma jornalista belgas. Mas mais do que herói no grande ecrã, Denis Mukwege é um herói bem real, que não tem medo de atacar o governo da República Democrata do Congo pela sua má gestão e pela falta de empenho em melhorar a vida da população de um território naturalmente rico, mas onde as pessoas vivem no limiar da pobreza. O povo congolês sonha vê-lo na presidência um dia, mas sobre isto nunca adiantou nada, nem mesmo quando recentemente veio a Portugal receber o Prémio Gulbenkian, que atribuiu à sua fundação 250 mil euros, quantia importante para manter o seu trabalho em prol da defesa dos direitos do sexo feminino.


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