Em África, como na Ásia, em alguma regiões, as mulheres de pele mais clara são consideradas mais bonitas, o que leva as mulheres negras e asiáticas (e também alguns homens) a clarear a pele para se sentirem melhor com o seu aspecto. Esse número tem crescido, apesar dos riscos para a saúde. Os dermatologistas alertam para o facto de haver cada vez mais pessoas com a pele danificada de forma irreversível devido a anos de branqueamentos. Segundo dados revelados pela Organização Mundial da Saúde, em África são as nigerianas (77%) que mais recorrem a esses produtos, seguidas das togolesas (58%), as sul-africanas (58%) e as malianas (25%). Esta moda é visível em fóruns da Internet, blogues e vídeos, onde milhares de jovens “conversam” sobre este tema, partilhando nomes de produtos, formas de aplicar e resultados obtidos.
A culpa é da hidroquinona
No centro da polémica, está a substância comum a todos os branqueadores, a hidroquinona, que age no interior das células que dão cor à pele e impede a produção dos pigmentos. É usada há muitos anos por dermatologistas e pela indústria cosmética para atenuar manchas escuras do rosto, provocadas pelo sol, acne, queimaduras e pelo envelhecimento cutâneo, mas sempre numa concentração inferior a 2%, já que o tecido cutâneo não a tolera em quantidades superiores. Mas o que está a acontecer é que nos países africanos, as concentrações permitidas são mais elevadas. No Zimbábue, Zâmbia, Angola e Congo, por exemplo, podem chegar a 20%, aumentando os riscos do seu uso.
Em alguns países nem sequer é permitido a venda de produtos com esta substância, caso de Portugal e de outros países europeus, onde as formulações com hidroquinona têm de ser manipuladas em farmácias e só podem ser compradas mediante prescrição médica.
Banir ou não?
A Costa do Marfim foi mais longe e, em Abril último, proibiu os cremes branqueadores por causa dos efeitos negativos para a saúde, que incluem doenças como a leucemia, cancro do fígado e dos rins, hipertensão, diabetes e ocronosis, uma forma de hiperpigmentação que faz com que a pele fique roxa, devido à concentração de compostos químicos nos produtos de branqueamento.
Os produtos banidos neste país incluem cremes que contêm mercúrio, alguns esteróides, vitamina A e hidroquinona acima de 2%. No entanto, continua a ser possível comprá-los nas lojas e os fabricantes alegam que banir os produtos não é a solução, pois as pessoas poderão começar a tentar fabricá-los em casa. A ministra da Saúde da Costa do Marfim, Raymonde Goudou Coffie, concorda com essa ideia e, em declarações à Agence France-Press (AFP), garantiu que, primeiro, querem despertar a consciência para, depois, tirarem todos os produtos do mercado. Mas sabe que para isso acontecer as mentalidades têm que mudar, pois os homens do país "amam as mulheres que brilham à noite", disse à AFP, referindo-se às mulheres de pele mais clara.
O exemplo dos famosos
A actriz de origem queniana, Lupita Nyong’o, umas das mulheres mais bonitas do mundo e a primeira negra a ser rosto da marca de cosmética Lancôme, está a tentar mudar a forma de pensar dos africanos. Tem feito várias palestras sobre o tema, apesar de confessar que, durante a infância, também ela quis ter a pele mais clara e rezava por isso todas as noites. Mas isso são águas passadas e, hoje, sente-se bem na sua pele. Numa das palestras onde participou, Lupita Nyong’o leu uma mensagem de uma jovem que lhe agradecia o facto de não ter chegado a usar os cremes branquadores: “Querida Lupita tem muita sorte por ser tão negra e, ainda assim, bem-sucedida em Hollywood. Eu estava prestes a comprar um creme para clarear minha pele, quando apareceu e salvou a minha vida”.
Mas se Lupita dá um bom exemplo, o mesmo não acontece com outras estrelas africanas. A cantora nigeriana Dencia é mesmo a cara de um creme branqueador e a modelo queniana Vera Sidika diz ter aclarado a sua tez em três tons com um tratamento médico. A cantora sul-africana Nomasonto Mnisi também já confessou que clareia a pele, bem como o estilista congolês Jackson Marcelle, que é conhecido como Michael Jackson africano e que assegura já fazer branqueamentos há 10 anos.
Os anúncios dos produtos em questão também estão envoltos em polémica. As modelos ou figuras públicas usadas nas publicidades aparecem com a pele mais branca do que têm na realidade, fruto do jogo de luzes e do Photoshop usados nas sessões de fotografias, mascarando o real efeito dos cosméticos.