Catarina Fortunato dos Santos Sábado, nascida em Luanda em 1979, é filha de Manuel João dos Santos e de Delfina Fortunato, doméstica. “Nasci na Maianga, mas é no bairro da Petrangol, na fronteira entre o Sambizanga e o Cazenga onde foi enterrada a minha placenta... e onde caiu o meu umbigo”, assim se apresenta.
A primeira de nove irmãos da parte de mãe e segunda de doze irmãos da parte de pai, Catarina Fortunato dos Santos Sábado teve uma infância que, embora repleta de necessidades e de carências, contou com o amor incondicional da avó materna Filipa, sua mãe grande, sustentada pelo balaio da farinha musseque.
Em consequência de ter os pais separados, Catarina Fortunato dos Santos Sábado vivia num vai e vem entre a Samba, casa do pai, Sambizanga, casa do avô (materno), Petrangol (casa da avó materna) e Hoji ya Henda (casa da mãe).
Catarina Fortunato dos Santos Sábado fez os estudos primários nas escolas 157 (Andorinhas, Sambizanga) e Heróis de Camgamba (Samba) e como a maior parte das crianças experimentou dificuldades extremas na sua vida diária.
O ensino secundário foi cumprido em Cacuaco e o ensino médio na escola pré-universitária de Luanda.
Por falta de apoio dos pais, Catarina Fortunato dos Santos Sábado foi forçada a desistir de estudar. “Foi então que decidi usar os conhecimentos adquiridos pela vida para sobreviver.”
Com uma bagagem que se ia enchendo de cursos básicos, financiados com o dinheiro da zunga de loiça, roupas, cremes e perfumes e da bancada de peixe frito com mandioca e magoga, em 2000 ingressa no centro de formação pesqueira de Cacuaco (Cefopescas) tendo concluído com sucesso o curso básico de Electromecânica de Frio, mas era muito difícil superar a dificuldade de conseguir um emprego.
“Tive de diversificar dedicando-me a outras profissões como cabeleireira e técnica de vendas, fui até auxiliar de armazém numa empresa onde descarregava até contentores e trabalhei numa fábrica de gelo.”Catarina Fortunato dos Santos Sábado é mãe de 4 filhos.
“Tornei-me na mãe dos Setinhos, consequência dos meus filhos terem nascidos todos de sete meses. Nome que adoptei para assinar as obras de minha autoria.”
Desde muito cedo adquiriu o gosto pela leitura. “Fui impulsionada pelas histórias contadas por uma vizinha da avó paterna, uma estante de livros que enfeitavam a casa do meu pai, o quarto de “souvenirs” do meu tio marinheiro.”
Era uma colorida viagem que Catarina Fortunato dos Santos Sábado fazia a bordo do submarino de Júlio Verne, no navio dos capitães de areia e às vezes perdia-se nas aventuras de Tom Sawyer e, embora pequenina, conhecia o Segredo da morta. “E conheci a Funda e fui “aluna “ de Kanhitu, pois o Kota Uanhenga apresentou-me a ele. E com Neto ensinei os meus filhos a esperarem sem cruzarem os braços.”
Em 2015 lança a sua primeira obra literária, com o título “Lamúrias do meu íntimo”, e em 2018 participa no Livro “O Bar dos canalhas”, assinado por vários escritores angolanos e estrangeiros, dentre eles Luís Fernando, Onélio Santiago e Eduardo Aguaboa.
Hoje, Catarina Fortunato dos Santos Sábado é correspondente de um jornal virtual português (Jornal Tornado) e cronista da Revista Mulher Africana.
“Com uma vida repleta de superações, tive de enfrentar vários medos para alimentar os meus filhos.” Em 2016 deixa Luanda e vai viver no Lobito onde foi vítima de um acidente rodoviário, sendo operada uma primeira vez e impossibilitada de andar. Com ajuda de amigos vai para Luanda, onde é operada segunda vez no Hospital Maria Pia.
Desempregada e com quatro filhos e uma sobrinha para sustentar, passa a depender de ajudas de pessoas amigas, algumas das quais identifca: Maria Rangel Miguel, Vaneuza Lopes Fernandes, Lauriano Tchoia, Eduardo Cussendala, Gociante Patissa, John Cachala e o ortopedista Santiago Castillo.
De entre várias consequências deixa os filhos por muito tempo sozinhos para procurar saúde (cerca de um ano) e quando volta para casa a rua tinha-os “reeducado”, quase perde o segundo filho para a delinquência.
Quando tudo parecia não ter mais solução, começou a fazer tranças ao domicílio e a vender pastéis e plantas naturais. Um dia a renda da casa terminou e foi “expulsa” para a rua com os filhos e começa a vender temperos caseiros, que não lhe rendiam quase nada.
Posta em Luanda, não perdeu tempo e lançou mãos à obra, na impossibilidade de conseguir trabalho nas suas áreas de especialização. Assim, vende óleo, chás e sabonetes de eucaliptos, fabricados por ela própria, para fins terapêuticos e cosméticos, em luta diária pela sobrevivência da sua família.
A investigação, que devia ser prioridade, continua a ser um grande enigma pois nunca há dinheiro.”
Fonte: Jornal de Angola